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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Mulheres admiráveis.


Cláudia Laitano: Terra em Transe



Colunista analisa as recentes atrocidades de presídio maranhense a partir de curta-metragem de Glauber Rocha sobre Sarney
Sarney no curta-metragem "Maranhão 66", de Glauber Rocha
claudia.laitano@zerohora.com.br
Em meados dos anos 60, Glauber Rocha filmou a posse de um jovem político que prometia tirar seu Estado do atraso e da miséria. O curta Maranhão 66, disponível no YouTube, contrapõe as promessas de renovação do governador recém-eleito, José Sarney, a imagens reais de pobreza, doença e abandono – chocantes até mesmo para os padrões brasileiros de indigência.
À luz do que sabemos hoje sobre a família Sarney e seu comovente empenho para diminuir a miséria do Maranhão nos últimos 50 anos, é tentador encarar o filme como uma brilhante (e premonitória) crítica social, capaz de denunciar não apenas as contradições do jovem político em ascensão, mas a ingenuidade da massa de manobra que saudava em êxtase o novo governador como se genuinamente acreditasse que lábia, bigodes e gomalina fossem a solução definitiva para todos os problemas da nação.
O documentário é uma peça de propaganda no mínimo ambígua: foi encomendado pelo próprio Sarney, que já não era bobo, ao amigo Glauber, que já não era certo. Nele vemos um orador cheio de energia parnasiana lendo um discurso que qualquer adversário assinaria embaixo:

"O Maranhão não quer a desonestidade, a corrupção. O Maranhão não quer a violência como instrumento da política. O Maranhão não quer a miséria, a fome, o analfabetismo". Seria Sarney o salvador da pátria ou a nova cara do continuísmo? É provável que os maranhenses da época não achassem tão evidente o que hoje nos parece óbvio.
São muitas as lições que podemos extrair do curta Maranhão 66. Uma delas é que nenhum artista é dono da posteridade de sua obra. Um filme feito para defender uma ideia pode vir a assumir o sentido exatamente oposto, sem que sua qualidade estética seja questionada – um fenômeno parecido aconteceu com a diretora alemã Leni Riefenstahl, a cineasta de Hitler, que filmou a Olimpíada de 1936 de forma a exaltar a superioridade ariana e acabou se tornando um símbolo da estética racista.
Outra é quase uma obviedade: somos muito mais impactados por imagens do que por palavras – falsas ou verdadeiras. O arrebatador discurso do jovem e vigoroso Sarney fala de um Maranhão miserável, doente e corrupto, mas é a imagem de um único homem, morrendo de fome e de abandono, que nos dá a real dimensão da tragédia que ele descreve.
Algo parecido aconteceu esta semana com a divulgação do vídeo com as atrocidades cometidas no presídio de Pedrinhas. Imagens de virar o estômago, que muitos não tiveram coragem para assistir, acabaram desencadeando a reação nacional e internacional que todas as denúncias anteriores não foram capazes de provocar. Chocante, mas necessário.
Por permitir que o clã Sarney se perpetue no poder, por dar as costas para o que acontece no coração mais escuro da miséria nacional, por repetir sempre e de novo os mesmos erros, o Brasil talvez precisasse mesmo enfrentar o mal-estar, a vergonha e a culpa de ver corpos sem cabeça amontoando-se no chão.

Assista ao curta-metragem Maranhão 66, de Glauber Rocha:



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