ONU exige que Vaticano
denuncie padres pedófilos à polícia
Relatório
afirma que Santa Sé viola direitos de crianças
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A presidente da comissão da ONU, Kirsten Sandberg, o embaixador do Vaticano nas Nações Unidas, Silvano Tomasi, e o ex-promotor do Vaticano Charles Scicluna (da esquerda para a direita) encontraram-se em reunião em Genebra no dia 16 de janeiro. |
A Organização das Nações
Unidas (ONU) acusou nesta quarta-feira o Vaticano de violar a Convenção de
Direitos da Criança, depois de publicar um relatório muito crítico no qual
exige que se denuncie à polícia todos os casos de pedofilia dentro da Igreja.
Nas conclusões do
relatório, o Comitê convoca a Santa Sé a "afastar imediatamente de suas
funções todos os autores conhecidos e suspeitos de abusos sexuais de crianças,
e denunciá-los às autoridades competentes para que os investiguem e
processem".
O relatório foi publicado
após uma audiência realizada no mês passado em Genebra, na qual membros do
Comitê, composto por 18 especialistas em direitos humanos de todo o mundo,
interrogaram uma delegação do Vaticano sobre sua política de luta contra a
pedofilia.
Ao ser perguntada sobre se
o relatório acusa o Vaticano de violar a Convenção de Direitos da Criança da
ONU no que diz respeito aos abusos sexuais, a presidente do Comitê, Kirsten
Sandberg, respondeu: "A resposta é sim, até agora violaram a Convenção,
porque não fizeram tudo o que deveriam" para solucionar este problema.
No relatório, o Comitê
afirma que a Igreja Católica ainda não fez o suficiente para cumprir seu
compromisso de erradicar a pedofilia.
O Comitê da ONU destaca
"sua profunda inquietação pelos abusos sexuais cometidos contra crianças
por membros de igrejas católicas que pesam sob a autoridade da Santa Sé",
e lembrou que estes crimes cometidos por religiosos envolvem "dezenas de
milhares de crianças de todo o mundo".
"O Comitê está muito
preocupado pelo fato de a Santa Sé não ter reconhecido a amplitude dos crimes
cometidos, não ter tomado as medidas apropriadas para enfrentar os casos de
pedofilia e para proteger as crianças e por ter adotado políticas e práticas
que propiciaram o prosseguimento dos abusos e a impunidade dos autores",
acrescenta o texto.
O Vaticano reagiu
denunciando distorções do documento da ONU.
– O documento não foi
atualizado, ele não tem uma perspectiva correta – declarou o representante do
Vaticano, monsenhor Silvano Tomasi, em uma entrevista à Rádio Vaticano, na qual
acusou o relatório de não levar em conta os avanços feitos pela Igreja. O
documento "parece ter sido preparado de antemão", declarou Tomasi,
considerando que os fatos foram distorcidos.
Tomasi, que foi
interrogado em janeiro em Genebra pelo Comitê da ONU para os Direitos da
Criança, detalhou na entrevista as medidas tomadas pela Igreja Católica contra
estes abusos.
– São fatos, evidências,
algo que não pode ser distorcido – lamentou.
Mais cedo, o Vaticano
havia prometido examinar minuciosamente as críticas da ONU de que não fez o
necessário para frear o problema da pedofilia dentro da Igreja, segundo um
comunicado oficial.
O relatório das Nações
Unidas critica, em particular, a política de trocar de paróquia os sacerdotes
pedófilos, uma prática que considera como uma tentativa de acobertar os crimes
e evitar que sejam julgados pelas autoridades civis.
"A prática da
mobilidade dos criminosos, que permitiu que muitos sacerdotes permaneçam em
contato com crianças e continuem abusando delas, continua expondo crianças de
muitos países a um alto risco de sofrer abusos sexuais", afirma o
relatório.
Assim como outros
signatários da Convenção da ONU dos Direitos da Criança em 1989, o Vaticano está
submetido à vigilância do Comitê. Sua presença no mês passado na audiência foi
a primeira desde a explosão do escândalo de abusos sexuais em muitos países, da
Europa, América Latina e Estados Unidos.
Desde 2001, os casos de
pedofilia cometidos no seio da Igreja foram tratados de forma interna pela
Congregação para a Doutrina da Fé, o equivalente de um ministério da Justiça no
Vaticano.
O Comitê da ONU se queixa
de não ter recebido dados de todos os casos de pedofilia estudados pela
Congregação, nem sobre as punições aplicadas.
Além disso, criticou o
recurso a "medidas disciplinares que permitiram à grande maioria de
autores e a quase todos os que acobertaram abusos de crianças escapar à justiça
dos países onde estes crimes foram cometidos".
O Comitê criticou
especialmente o "código de silêncio" imposto ao clero sob ameaça de
excomunhão.
Bento XVI, papa de 2005 a
2013, foi o primeiro a se desculpar pelos abusos cometidos contra menores, e
propôs uma política de tolerância zero, que, segundo seus críticos, não foi
acompanhada por todas as medidas necessárias para eliminar o problema.
Seu sucessor, Francisco,
disse que a pedofilia no seio da Igreja é uma vergonha e em dezembro criou uma
comissão para investigar estes crimes, preveni-los e atender as vítimas.
O Comitê da ONU deu as
boas-vindas à iniciativa, afirmando, no entanto, que ela não vai longe o
suficiente e que a Santa Sé deveria criar um organismo independente de direitos
humanos para se ocupar da questão.
Também declarou que os
arquivos da Igreja deveriam ser abertos para que os culpados de pedofilia e
seus cúmplices sejam responsabilizados.
fonte: Zero Hora
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