Volta amarga.
p.s - as imagens aqui mostradas podem causar desconforto a algumas pessoas, se recomenda descrição.
Cá
estou eu novamente na luta para levar a quem tem a paciência de me seguir e ler
as loucuras nem tão bem escritas que posto neste espaço, compartilhando assim
com vocês, os assuntos que me chamam atenção no decorrer de minhas leituras e
viagens por este mundo que a cada dia se mostra mais caótico.
Minha
intenção era ficar, vejam vocês, o mês de janeiro inteiro sem trabalhar e
divagar neste espaço, mas em decorrência dos acontecimentos que vem sendo
presenciados por estes olhos e dedos inquietos que possuo, não fui capaz de
cumprir a promessa, não sou nada bom em promessas.
Na
verdade os olhos e dedos não são o grande problema, o maior deles se aloja em
minha cabeça, que se nega a concordar e não manifestar algo através de texto
certas “coisas” que estão movendo nosso mundo, nosso cada vez mais triste mundo.
Por outro lado, ainda tenho boas surpresas na análise de alguns casos, lapsos
de esperança que surgem com boas notícias, imagens, atitudes, iniciativas,
acontecimentos, arte, diversão, enfim, o que ainda se faz necessário para
sobrevivermos a este trem desenfreado.
Mas
as coisas não estão fáceis, isso que nem estou a fala aqui neste momento, das
coisas do mundo, mas das do Brasil.
Sim
senhores e senhoras, estamos vivendo dentro de uma guerra silenciosa, não por
falta de barulho, ela faz muito barulho, como em todas as guerras, se tem fogo,
choro, desespero, preocupação, medo, tiros, violência desenfreada, mas por
darmos as costas a ela sem dar a mínima importância ao que grita diante de
nossos olhos.
Mais
do que isto, trata-se da pior das guerras, a civil, onde se tem um governo (de
modo geral) que não está lá muito (aliás, nada) a fim de ajudar, dar jeito,
procurar alternativas já existentes, e são muitas apresentadas, enquanto
assassinatos aumentam, uma menina morre por queimaduras graves, a mãe se
encontra em estado grave e a irmã da mesma forma, tudo por conta de marginais que
colocam fogo em transporte público.
Como
se não bastasse temos, talvez por inveja da Europa em seus tempos de trevas, se
ainda fosse só isso, decapitações como meio de “livrar-se” da superlotação
penitenciária, um verdadeiro exemplo de que as coisas estão acontecendo de
dentro para fora com a carta branca dos Coronéis da família Sarney que mandam e
desmandam em um Estado fechado como o Maranhão.
Na
mesma matéria que acompanhava a cerca do assunto, me chamou atenção demais a
declaração de um detento do Complexo de Pedrinhas algemado com as mãos para
trás, que ao deixarem este manifestar-se pelo esticar de um microfone da
imprensa diz que enquanto deveriam (eles) construir presídios para ressocializar
os indivíduos que ali estão, que estes
locais servem tão somente para criar monstros. Finaliza o detento algemado
dizendo assustado: “cada dia que passo aqui dentro do complexo de Pedrinhas, eu
me sinto mais monstro, sinto que estou me tornando um monstro.”.
Ironicamente
o nome do Complexo Penitenciário do Maranhão me faz pensar que como as
pedrinhas minúsculas de areia, e por serem minúsculos objetos são estas capazes
de se acumular e se unir umas as outras formando um grande deserto, quase sem
vida alguma, da mesma forma fazem as ostras que acumulam os grãos de areia para
formarem as pérolas de
uma beleza inigualável que protegem as ostras.
Da
mesma forma unem-se a muito tempo (tônica do país no assunto) os fatos
insuportáveis e intoleráveis que formam o maior e mais devastador dos desertos e
que não lembram em nada a beleza das pérolas, mostrando de forma imponente um
quadro caótico, animalesco, desumano e devastador, o do esquecimento e da
consequente violência bárbara, primitiva e que sequer pode ser chamada de animalesca,
eis que nem todos animais assim agem, até porque não se tratam os
acontecimentos de algo irracional, como os animais fazem movidos por seu
instinto. Tais atos se permitiram ocorrer, foram feitos e são mantidos por
seres como nós, racionais. A bolha dolorida do pé em decorrência do sol
estourou, e a muito.
Para
os que acham que realmente isto deve acontecer dentro de um presídio, e que os
que o compõem devem lá ficar, independente do que lá dentro aconteça, desde que
não nos atrapalhe, esquecem que os maiores prejudicados em todo este ciclo
vicioso de descaso com o sistema penitenciário falido de nosso país têm reflexo
diretamente em nós, ora por ações comandadas descaradamente de dentro de
penitenciárias de segurança máxima, que colocam a sociedade em pânico, ora por
poder ser um filho seu que morre em um latrocínio, ora pelas imagens chocantes das
decapitações e dos 62 homicídios ocorridos no decorrer do ano passado nos
presídios do Maranhão.
Se
lá em cima disse um apenado do Complexo de Pedrinhas se tornar lá dentro, a
cada dia, um monstro cada vez maior enquanto deveria estar sendo recuperado,
como seremos nós capazes de dizer que ele está exagerando ou que merece isso?
Quase ninguém sabe o que é ser um apenado nos dias de hoje no país em que
vivemos. Errado meu amigos, tudo errado, eis que temos um país que possui sim
pena, mas que não possui fiscalização para o cumprimento adequado desta.
Volto
a reforçar meu raciocínio, não pode se pensar que nos faz bem ou deixa de ser
um estorvo para nós sociedade atirarmos seres humanos cometedores de delitos
variados, todos misturados em um purgatório, eis que o resultado, quando da
saída de um sujeito destes de um local assim, pode ser o pior dos esperados,
sempre. Este mesmo individuo que recebeu de você indiferença, por você de forma
ignorante achar que isso não é problema seu, pode ser por ironia do destino o
que saca uma arma e mata seu filho em um latrocínio. E mais, não pensem que todo
esse sistema não convém aos homens de gravata do nosso governo, não esqueça que
muito dinheiro é destinado a esse setor, mas que como é de praxe em nosso país,
ele desaparece por interesses a cada dia mais difusos do original e alimenta o interesse
de cada vez menos pessoas.
Para
finalizar, as palavras de Ney Bello, Professor, escritor e desembargador
federal do Estado do Maranhão:
“Na penitenciária de
Pedrinhas, esta massa de excluídos, condenados e miseráveis chega desde este
universo em que o Estado lhe nega tudo, e onde é impossível viver sem
violência. Ali, ela mergulha num processo maior ainda de desumanização, que
reduz o homem a uma sobra do que é ser humano. A família do preso é obrigada a
trabalhar para os chefes do crime, sob pena de morte; os detentos são obrigados
a permitirem que suas esposas mantenham relações sexuais com outros – numa
espécie de estupro consentido – em troca de sobrevivência. E o que dizer destas
mulheres que para não morrerem, têm de suportar tamanha barbárie? É fácil
traficar armas, drogas, celulares e o que mais de necessário for, vez que a
administração penitenciária ou é refém da criminalidade ou conivente com ela.
Olhar nos olhos de alguém pode significar decapitação; querer alguma humanidade
pode significar a morte.”
Marcelo Ferla
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