Mulheres admiráveis.
MARTHA MEDEIROS -
Casamento Aberto
Andou circulando pela
internet um texto creditado a Danielle Mitterrand, viúva do ex presidente
francês François Mitterrand. Pelo teor, acredito que seja mesmo de sua autoria.
Quando permitiu que a amante e a filha que ele teve fora do casamento
comparecessem aos funerais, Danielle comprou uma briga com a ala mais
conservadora da sociedade francesa. Agora está se defendendo com uma reflexão
que serve para todos nós.
É sabido que a instituição
casamento vem se descredibilizando com o passar do tempo. Hoje, uma relação que
dure vinte anos já é candidata ao Guinnes. Li outro dia uma pesquisa sobre os
casais mais “divorciáveis” da atualidade. A tal Paris Hilton era a mais cotada
para se separar no primeiro ano de matrimônio – erraram:
nem chegou a haver
casamento. E fora do mundo das celebridades não é muito diferente.
Os pombinhos
estão no altar, e os amigos, na igreja, já estão fazendo suas apostas para a duração
do enlace. Todo mundo quer casar, adora a idéia, mas poucos ainda acreditam nos
felizes para sempre, e não porque sejam cínicos, mas porque conhecem bem o
contrato que estão assinando: com exigência de exclusividade vitalícia, ou
seja, ninguém entra, ninguém sai. Difícil achar que isso vai dar certo nos dias
atuais.
O casamento vai acabar?
Nunca, mas vai continuar a fazer muita gente sofrer se não entrarem cláusulas
novas nesse contrato e se as cabeças não se arejarem.
Danielle Mitterrand diz o
seguinte: “Achar que somos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia,
conformismo. É preciso admitir docemente que um ser humano é capaz de amar
apaixonadamente alguém e depois, com o passar dos anos, amar de forma
diferente”. E termina citando sua conterrânea, Simone de Beauvoir: “Temos
amores necessários e amores contingentes ao longo da vida”.
Estamos falando de
casamento aberto, sim, mas não desse casamento escancarado e vulgar, em que
todos se expõem, se machucam e acabam ainda mais frustrados. Casamento aberto é
outra coisa, e pode inclusive ser monogâmico e muito feliz. A abertura é
mental, não precisa ser sexual. É entender que com possessão não se chegará
muito longe. É amar o outro nas suas fragilidades e incertezas. É aceitar que
uma união é para trazer alegria e cumplicidade, e não sufocamento e repressão.
É ter noção de que a cada idade estamos um pouquinho transformados, com anseios
e expectativas bem diferentes dos que tínhamos quando casamos, e quem nos ama
de verdade vai procurar entender isso, e não lutar contra.
Sendo aberto nesse
sentido, o casal construirá uma relação que seja plena e feliz para eles
mesmos, e não para a torcida. E o que eles sofrerem, aceitarem, negociarem ou
rejeitarem terá como único intento o crescimento de ambos como seres
individuais que são.
Enquanto não renovarmos
nossas idéias de romantismo, continuaremos a bagunçar aquilo que foi feito
apenas para dar prazer: duas pessoas vivendo juntas. Eu não conheço nada mais
difícil, mas também nada mais bonito. E a beleza nunca está nas mesquinharias e
infantilidades. A beleza está sempre um degrau acima.
texto de Martha Medeiros
post: Marcelo Ferla
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