A vida como ela é por Martha Medeiros
Durante uma vida a
gente é capaz de sentir de tudo, são inúmeras as sensações que nos invadem, e
delas a arte igualmente já se serviu com fartura. Paixão, saudades, culpa,
dor-de-cotovelo, remorso, excitação, otimismo, desejo – sabemos reconhecer cada
uma destas alegrias e tristezas, não há muita novidade, já vivenciamos um pouco
de cada coisa, e o que não foi vivenciado foi ao menos testemunhado através de
filmes, novelas, letras de música.
Há um sentimento, no
entanto, que não aparece muito, não protagoniza cenas de cinema nem vira versos
com frequência, e quando a gente sente na própria pele, é como se fosse uma
visita incômoda. De humilhação que falo.
Há muitas maneiras de
uma pessoa se sentir humilhada. A mais comum é aquela em que alguém nos menospreza
diretamente, nos reduz, nos coloca no nosso devido lugar - que lugar é este que
não permite movimento, travessia?. Geralmente são opressões hierárquicas:
patrão-empregado, professor-aluno, adulto-criança. Respeitamos a hierarquia,
mas não engolimos a soberba alheia, e este tipo de humilhação só não causa
maior estrago porque sabemos que ele é fruto da arrogância, e os arrogantes
nada mais são do que pessoas com complexo de inferioridade. Humilham para não
se sentirem humilhados.
Mas e quando a humilhação
não é fruto da hierarquia, mas de algo muito maior e mais massacrante: o
desconhecimento sobre nós mesmos?
Tentamos superar uma
dor antiga e não conseguimos. Procuramos ficar amigos de quem já amamos e
caímos em velhas ciladas armadas pelo coração. Oferecemos nosso corpo e nosso
carinho para quem já não precisa nem de um nem de outro. Motivos nobres, mas os
resultados são vexatórios.
Nesses casos, não houve
maldade, ninguém pretendeu nos desdenhar. Estivemos apenas enfrentando o
desconhecido: nós mesmos, nossas fraquezas, nossas emoções mais escondidas,
aquelas que julgávamos superadas, para sempre adormecidas, mas que de vez em
quando acordam para, impiedosas, nos colocar em nosso devido lugar.
Martha Medeiros
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