Monge Sato
CONVERSÃO
Escrevo aos amigos, muitos
virtuais que me acessam no ar, outros que me conheceram como monge budista e
alguns que acompanham a minha trajetória há mais de 50 anos.
Na última semana, meditei
muito sobre o “faz de conta”, tema que deve ter mexido com muita gente, até em
função da crise existencial, institucional e ética que parece externa a nós.
Faz de conta que existimos em busca da felicidade, faz de conta que seguimos a
etiqueta social no melhor convívio com os outros, faz de conta que somos
budistas de mente tranquila e mente confiante.
O “faz de conta” não é
fingimento, é o nosso modo de vida e de ser.
Se não há o “faz de conta”,
não vivemos.
Vivemos muito tempo, fazendo de conta que a terra é plana e o
mundo gira em torno dela.
Vivemos muito tempo sob domínio dos poderosos
constituídos como reis, sacerdotes e guerreiros aceitos na etiqueta social e
até na democracia moderna controlada por demagogos e corruptos, fazendo de
conta que obedecer-lhes garante a paz social.
Frequentamos templos e meditamos,
fazendo de conta que somos espiritualistas a desprezar os bens materiais quando
estamos buscando apenas momento de relaxamento.
Isso nos angustia e muitas
vezes recorremos ao fundamentalismo que não nos permite o esforço e a prática
da paciência, generosidade, tolerância, atenção plena, meditação e sabedoria.
Ou ao liberalismo exacerbado em que tudo vale se é para o próprio bem, ainda
que esse benefício seja individual e efêmero.
Eu me converti ao budismo há
25 anos, depois de ter sido católico ativo e marxista militante.
Não reneguei
sua doutrina ou sua prática.
Não se trata de acreditar em deus ou na história.
Foi encontrar-me com deus e com a história como ser humano que ama a si e aos
outros.
Como ser humano, não sou
perfeito no amor, mas posso ser sincero ao viver momentos de Terra Pura no
cotidiano.
Procuro cultivar a mente tranquila - ampla, aberta e criativa – e a
mente confiante – serena, amorosa e generosa – para viver com firmeza e
jovialidade e sempre em gratidão ao Outro, medito sobre a própria conduta para
aceitar lampejos de sabedoria e compaixão como a Luz do Buda para tomar
decisões optativas no Caminho da Bem- Aventurança e me dedico ao bem da
sociedade que o respeito e auxílio mútuos me estimulam.
Assim foi a minha conversão,
“fazendo de conta” que era budista, mas hoje não sei como estaria sem sê-lo.
Acreditei na sinceridade de
mestres e instrutores e me juntei a eles no esforço de transmitir os méritos do
Buda a todos os seres igualmente para que juntos despertemos a mente que busca
a Iluminação para nascermos na Terra da Paz e da Bem-Aventurança.
Junte-se a nós. `
post - Marcelo Ferla
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