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sábado, 28 de novembro de 2015

Moradora da Capital que sobreviveu a Auschwitz.

Moradora da Capital que sobreviveu a Auschwitz relembra os horrores do nazismo.
Aos 90 anos, num abrigo na zona norte de Porto Alegre, Sara Perelmuter ainda é assombrada à noite por pesadelos que a levam de volta ao megacampo de extermínio nazista desmantelado pelo Exército Vermelho em 27 de janeiro de 1945.
Por: Jaqueline Sordi

Sara escolheu o Brasil para refazer vida destroçada
Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
Com a voz baixa, o olhar por vezes atento, por outras, distante, Sara Perelmuter, 90 anos, anuncia que se aproxima um dia comemorativo. Tentando se agarrar à memória, que hoje insiste em falhar, sabe que é seu dever rememorar a importância da data, ainda que as lembranças passeiem vagas por sua cabeça. Há exatos 70 anos, em 27 de janeiro de 1945, os soldados soviéticos adentravam os portões do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, libertando os 7 mil prisioneiros remanescentes daquela que foi a maior fábrica de morte da história. Sara é uma das sobreviventes.
– Vai ser o dia das vítimas do Holocausto. Acho que sonhei nesta noite com isso – disse a ex-prisioneira a Zero Hora no domingo.
A data marca o início do retorno de milhares de judeus, deste e de outros campos de extermínio espalhados pela Europa, à esperança de uma vida digna. 

Entre eles, Sara reencontrou, no auge dos seus 20 anos – e pesando apenas 25 quilos –, uma chance de reconstruir sua história. 

Uma das poucas sobreviventes de Auschwitz vivendo no Rio Grande do Sul, ela relembra, com a ajuda do filho adotivo, Isac, 61 anos, um pouco dos dias em que se alimentou, literalmente, de sonhos:
– Assim que foi levada ao campo de concentração, minha mãe sonhava todas as noites que jantava um farto banquete ao lado da família. Acordava acreditando estar sem fome e dava a única batata crua, que recebiam para comer por dia, para a tia dela, ajudando-a a sobreviver – relatou o filho.
Foi aos 15 anos que Sara viu pais e irmãos pela última vez. Natural da então Checoslováquia, ela viajara à Hungria para cuidar de uma tia doente quando soube que seus parentes haviam sido levados a um campo de concentração. Deles, nunca mais teve notícias.

A mãe e o irmão de Sara (Foto: arquivo pessoal)
O ano era 1940, e a guerra se alastrava pelo continente europeu. Não demorou muito para que a jovem e a tia também fossem recolhidas pelos nazistas, em maio de 1941, e levadas a Auschwitz, o maior campo de extermínio. Ao chegar ao local, elas e outras centenas de prisioneiros foram postos em uma fila que se bifurcava em duas levas. Os da direita iam para o trabalho. 

Os da esquerda, para a morte. Os últimos, segurando sabonetes, acreditavam estar a caminho do banho, mas, em vez de água, eram expostos ao gás e morriam asfixiados.
– Todos nós víamos isso. Eu ia ao banheiro no dia seguinte, e lá estavam os corpos socados no chão. 

Eles matavam os velhos, as crianças e os deficientes físicos – descreveu Sara há alguns anos, em um relato destinado a guardar a memória do genocídio.
Durante os meses em que permaneceu em Auschwitz, dormia em pequenos beliches com outras dezenas de prisioneiros, em um espaço que não lhes permitia estender os pés. Obrigada a ingerir venenos como parte de experimentos de métodos de esterilização em massa, Sara não pôde ter filhos.

Recrutamento para fábrica de Schindler foi breve alívio.
Trabalhando no setor de armamentos do campo, ela relembra que as condições em que viviam eram “semelhantes às de animais”. 

Quando lhes era oferecida sopa para comer – o que chamavam de sopa, na verdade era uma tigela aguada com alguns resquícios de vegetais que se concentravam no fundo –, tinham de fracionar as porções em pequenas quantidades e bebê-las com os dedos. Colher era artigo de luxo. 

Ao final de cada semana de trabalho, recebiam como pagamento sabonetes que, depois, descobriu-se serem feitos com a gordura dos prisioneiros mortos. Outras poucas vezes, a recompensa era geleia de maçã.
Durante os oito meses em que ficou no campo, vivenciou a experiência recorrente de sentir a pele queimada em carne viva pelas horas de exposição ao sol e aprendeu a conviver com o esgotamento físico e mental e a ideia de morte iminente.
A primeira luz de esperança para a jovem, então com 16 anos, veio do engenheiro alemão Oskar Schindler. 

Em 1942, ele recrutou judeus prisioneiros para trabalhar em sua fábrica de alumínio, fora do campo. Sara estava entre as 800 mulheres selecionadas. 

Pouco depois, entretanto, foi levada de volta a Auschwitz. 

No dia da libertação, os prisioneiros foram acordados por gritos: a guerra estava terminada.
– Nós chorávamos, nos abraçávamos e não sabíamos o que fazer. Eles (a Cruz Vermelha) nos deram latas de conserva de carne, sardinha, pão, e a gente jogava isso para dentro dos vagões, para os homens que estavam muito fracos – relembra.


Sara Perelmuter foi prisioneira do regime nazista entre 1941 e 1945 (Foto arquivo pessoal)


Quarenta quilos mais magra, Sara foi levada por soldados americanos à Hungria, onde permaneceu por pouco tempo. Depois de um período na Itália, optou por recomeçar a vida no Brasil, onde desembarcou em 1947. 

Desde 1956 escolheu o Rio Grande do Sul para residir. 

Vivendo em um asilo na zona norte de Porto Alegre, continua presa às lembranças do campo. À noite, pesadelos insistem em levá-la a viajar pelas memórias do terror:
– É algo que não desejo para ninguém. A gente vai vivendo, se arrastando, as coisas vão passando, mas não dá para esquecer. 

post: Marcelo Ferla

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