O melhor teste para
descobrir se uma sociedade é justa.
O filósofo americano John Rawls investigou a justiça social. E criou uma teoria simplesmente brilhante.
Por Paulo Nogueira, no DCM
O que é uma sociedade
justa?
O filósofo americano John
Rawls (1921-2002) se debruçou sobre esta pergunta. Em 1971, Rawls publicou um
livro aclamado: “A Teoria da Justiça”.
A idéia central de Rawls
era a seguinte: uma sociedade justa é aquela na qual, por conhecê-la e confiar
nela, você aceitaria ser colocado de maneira randômica, aleatória. Você estaria
coberto pelo que Rawls chamou de “véu de ignorância” em relação à posição que
lhe dariam, mas isso não seria um problema, uma vez que a sociedade é justa.
Mais de quarenta anos
depois do lançamento da obra-prima de Rawls, dois acadêmicos americanos usaram
sua fórmula para fazer um estudo. Um deles é Dan Ariely, da Universidade Duke,
especializado em comportamento econômico. O outro é Mike Norton, professor da
Harvard Business School.
Eles ouviram pessoas de
diferentes classes sociais. Pediram a elas que imaginassem uma sociedade
dividida em cinco fatias de 20%. E perguntaram qual a fatia de riqueza que elas
supunham que estava concentrada em cada pedaço.
“As pessoas erraram
completamente”, escreveu num artigo Ariely. “A realidade é que os 40% de baixo
têm 0,3% da riqueza. Quase nada. Os 20% de cima têm 84%.”
Em seguida, eles aplicaram
o “véu de ignorância de Rawls”. Como deveria ser a divisão da riqueza para que
eles se sentissem seguros caso fossem colocados ao acaso na sociedade?
Veio então a maior
surpresa dos dois acadêmicos: 94% dos entrevistados descreveram uma divisão que
corresponde à escandinava, tão criticada pelos conservadores dos Estados Unidos
por seu elevado nível de bem-estar social, e não à americana.
Na Escandinávia,
os 20% de cima têm 32% da riqueza. (Disse algumas vezes já e vou repetir: o
modelo escandinavo é o mais interessante que existe no mundo, um tipo de
capitalismo extremamente avançado do ponto de vista social.)
“Isso me levou a pensar”,
escreveu Ariely. “O que fazer quando num estudo você descobre que as pessoas
querem um determinado tipo de sociedade, mas ao olhar para a classe política
parece que ninguém quer isso?”
Bem, uma das respostas à
questão está na eclosão de protestos nos Estados Unidos. Os “99%” do movimento
Ocupe Wall Street estão esperneando por uma sociedade mais justa, que se
encaixe na tese do “véu de ignorância” de Rawls.
Os 99% não são
representados nem pelos democratas e nem, muito menos, pelos republicanos.
Barack Obama e Mitt Romney jamais aceitariam ser colocados aleatoriamente na
sociedade americana tal como é. As chances de que eles terminassem num lugar
bem diferente daquele que ocupam seriam enormes. Talvez eles tivessem que
dormir em carros ou em barracas, depois de perder a casa na crise econômica,
como acontece hoje com milhões de americanos.
Para usar o método de
Rawls, eis aí a demonstração do que é uma sociedade injusta.
Foto acima: Copenhague: a
sociedade escandinava é mais igualitária e mais feliz que a americana / DCM
Marcelo Ferla
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