O IPEA acertou, mas depois errou. Será?
Ipea erra na pesquisa que
está gerando o movimento "o corpo é meu e faço dele o que quiser, eu não
mereço ser estuprada e afins". Ao invés de 65%, passamos a ter 26% de
pessoas responderam que a mulher deveria se comportar melhor para evitar o
delito estupro.
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Shopia Costa. |
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Gabriela Barcelos |
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Camila |
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Thais |
Vamos falar do maldito
assunto que nos assolou durante estes últimos dias, a tal pesquisa do IPEA a qual,
inicialmente, revelou que 65% de homens e mulheres disseram que sim “a mulher
que não se comporta como uma dama em suas vestimentas em público ou na
intimidade, atiça a selvageria primitiva masculina dos homens e, por isso, merece
ser vítima de estupro e de outras violências contra ela.
Pois bem. Uma das
primeiras coisas que aprendi na Universidade de Direito que frequentei por seis
anos, já que na época usufruía de crédito federal (Creduc, hoje extinto) que me
financiava 80% do valor total de meu curso, o que fez com que resolvesse adiar
minha formatura (na época se formava em direito em 5 anos), tudo para sair o
mais atualizado possível, eis que belas cadeiras, á época, haviam sido
introduzidas no programa do curso, foi o fato de que toda, eu disse toda,
pesquisa encomendada traz no seu resultado números favoráveis a quem a
encomendou e, aqui, peço cuidado na interpretação do que estou escrevendo, não
se precipite.
Uma das questões que não
vi ser mencionada em nenhum texto, artigo, editorial de jornal ou matéria
destes, foi a possível ligação de ser esta uma pesquisa com encomenda de cunho
político, sim, político, mais específico de política de segurança falida.
Somos unânimes de que estamos
vivendo momentos que beiram, se já não podemos assim considerados, um Estado de
caos, calamidade, desumanização quando se fala e analisa a violência de toda
ordem que nós cidadãos estamos sendo vítimas e, na qual se inclui com muita
força, infelizmente, toda e qualquer tipo de violência contra a mulher, seja
ela doméstica, na rua, em locais de festas por estas frequentadas, dentro de
ônibus, enfim.
Posto isto, penso que do
outro lado temos inúmeros exemplos de ineficácia do Estado para com estes
problemas latentes, qualquer tipo de violência, que deixo á escolha e gosto de
quem quiser optar, tudo em decorrência, na maior parte dos anos (os não
eleitorais) da falta de atos mais coordenados, estruturados e, principalmente,
ponderados (entenda-se aqui, dentro da legalidade e do poder de polícia dado às
polícias pela CF/88), ou seja, trocando em miúdos, caímos, mais uma vez, por
mais esforço que façamos, no poço sem fundo da impunidade, da propina, da
corrupção e do estupro da segurança pública por quem lida com ela por meio de
como essa deve ser aplicada e se essa é adequada e suficiente a cada caso.
Voltando a ligação que
faço entre a pesquisa e a política, este raciocínio não exige muito para ser
compreendido. A falência do Estado Federativo em relação à luta diária contra a
criminalidade dá-se pelo fato de que, na medida em que ele, o Estado, perde,
muitas das vezes de forma proposital, completamente, o controle sobre essa
oferta de segurança, se torna muito cômodo a ele Estado, em todas esferas,
independente da bandeira política que domina o poder, a opção muito
interessante de jogar no colo do povo, especificamente do colo de nós homens e
mulheres a culpa de sermos, de um lado, nós homens, possíveis iniciais 65% de
psicopatas e, num segundo momento, no colo das mulheres, todas vagabundas que
adoram se aproveitar de seus atos exibicionistas dos prazeres carnais e
perigosos da atual sociedade provocando uma relação sexual selvagem, tudo de forma generalizada,
ofendendo a todos nós sem dó, a partir do momento em que a ração natural da
sociedade é generalizar o fenômeno.
Todos nós homens seríamos
tarados insaciáveis na cama que comem e depois matam e, todas as mulheres
seriam putas na mesa e na cama e que amam apanhar, ser estupradas e depois se
deixam perder a vida. No mínimo ingênuo e bizarro o raciocínio.
Como diria um dos psicopatas
mais populares do mundo o arqui-inimigo de Batman, o Coringa: “Introduza um
pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu
sou um agente do caos. E sabe, a chave do caos é o medo!”.
Traduzindo o que diz o ilustre
personagem de quadrinhos, ele, aqui no caso, seria o governo e seus tentáculos,
mecanismos de introdução do caos e, logo depois deste do medo e, por fim, a
revolta generalizada.
Como estamos em um período
eleitoral, a fórmula é bastante eficaz, primeiro se solta o vírus fatal, para
depois deste, disperso no ar, atingir um grande número de vítimas inocente que
morrem, daí o caos. Logo depois deste se apresenta a vacina que cura a doença
fatal em poucos minutos, criando-se o grande Deus da salvação, o governo.
Basicamente é o mesmo
raciocínio que nos deparamos quando vemos o filme cult “V de Vingança”, onde um
tirano, chanceler de Londres, lança um vírus que mata milhares de pessoas e
desfigura o anti-herói mascarado do filme, para logo depois, trazer através de
laboratórios de sua propriedade envoltos em uma teia de intrigas políticas e
autoritárias, vender a vacina que salva a vida dos que conseguiram se safar.
A pergunta que me faço é porque
em um momento tão específico como o ano eleitoral vem a tona uma pesquisa que
sei lá de onde veio, como foi feita e se é que foi feita. Entendam bem, com
isso não me torno um machista cego que acha que realmente a mulherada não pode
usar vestidos modelo panicat, nem tão pouco um homem que pensa que a mulher
deve servir ao homem, mesmo que este não seja o seu homem, na verdade, em casos
específicos não consigo definir qual deles é pior para a mulher. A violência
contra a mulher é sim uma triste e traumática realidade que está ai para
qualquer ser racional aceita-la, para assim, lutar contra esta, o que critico
aqui é o real fim desta pesquisa por trás de um país que está se acostumando a
gritar quando de barbaridades sociais, mas não posso me omitir por meio de uma
análise que julgo superficial em decorrência de determinadas coincidências, até
porque não acredito em coincidências.
Depois de tudo isto, ainda
querem que eu acredite em pesquisas em um país que diz não ter conhecimento de
uma refinaria que não funciona e foi comprada pela bagatela de 1,2 Bilhões de
reais. Acredito sim, que acontecimentos como o escândalo da Petrobrás tentem
ser objeto de esquecimento com pesquisas desta natureza que tem como objeto um
assunto que já é de domínio da sociedade desde a época em que Maria da Penha,
de tanto apanhar de seu marido, ficou paraplégica.
Ah por favor, acreditar em
pesquisas em um país e em uma emissora de televisão (Rede Globo) que divulgou o
assunto amplamente e que tem em seu histórico a eleição de Fernando Collor, e
que, ao se tocar da cagada que tinha feito criando seu monstrinho, incentivou o
mesmo povo que inicialmente iludira para o eleger a decretar o seu impeachment,
o retirando do poder do país.
Infelizmente digo a vocês
que números e fatos são manipuláveis e o brasileiro, por falta de hábito de
informação e a busca por esta, para assim, ter uma ideia mais polida e bem
formada a respeito das coisas que acontecem a seu redor, acaba se tornando
presa fácil do manipulador por trás de determinados acontecimentos e pesquisas
direcionadas.
Reitero o que disse, sou
contra e não acredito na pesquisa por tratar-se esta de fardo jogado nas costas
do povo, por ser manobra política em ano eleitoral, como tantas outras que
virão, como as falsas ocupações e pacificações que nunca existiram nas
comunidades do Alemão, Rocinha e agora a comunidade da Maré.
Por que tudo isto não
aconteceu muito antes, por que em período eleitoral? Acho que estamos começando
a entender o sistema.
Caso não acreditem,
achando que estou incorrendo em exagero subam o morro e perguntem a família do
pedreiro Amarildo se eles são crentes e estão felizes com a Instalação e o que
ocorreu dentro do contêiner da UPP naquela noite fatídica.
Pesquisas, e restou
comprovada nesta estapafúrdia do IPEA, são direcionadas, são feitas com idosos,
pessoas de baixa escolaridade, baixa faixa econômica, adolescentes que já são
eleitores, enfim, a exemplo de todas já feitas com contendo assuntos de
problemas sociais, esta também passou muito longe de ser uma pesquisa
retilínea, completa. Foi sim a instalação da doença medo, pavor, para depois a
mulher maravilha Dilma, descer de seu avião invisível e por fim ao problema,
coisa que não existe. O que existe é a sua queda nos braços do povo para mais
quatro anos de caos, ameaças, instalação de pânico e, depois disso, a apresentações
de soluções que mais parecem reboco de segunda.
Mais do que isso, ao ser
dada a notícia por uma repórter a Leilane Lopes, que ancorava o Jornal da
GloboNews das 18:00, essa se indignou quando a mesma complementou a informação
de que a diferença entre os 26% que realmente acham que a mulher deve se "comportar"
e que colabora quando "não se comporta de forma devida, usando vestidos
curtos" incitando o cometimento do delito estupro em relação aos 65%
iniciais, responderam que sim, gostam de apanhar em casa por que gostam. Em
resumo 39%, mais uma vez em sua maior parte mulheres, gosta de apanhar do seu
homem para não ter maiores problemas, por favor!!!
Completamente válida a
indignação da jornalista, ao vivo, eis que a declaração de que a maioria dos
entrevistados (mais que a metade deles foi de mulheres) concorde que é bom e
gostam de apanhar dos maridos, companheiros ou seja lá o que estes forem dentro
do lar, e que em briga de marido e mulher não se mete a colher (58% concordou).
Por fim a resposta de um
questionário para que não restem dúvidas:
Você é a favor de que as
mulheres são culpadas quando violentadas pelos homens? Não.
Você concorda que em briga
de marido e mulher não se mete a colher, mesmo que esta esteja sendo vítima de
violência domestica? Não. Se mete sim, o pé na porta e se prende o agressor.
Você acha que as mulheres de
uma forma geral, por usarem roupas curtas, saltos altos, unhas pintadas e
longas, belos pés cuidados, perfumes importados e, estas, serem na sua maioria independentes,
provocam os homens com estas atitudes a ponto de serem vítimas de crimes como o
estupro? Não.
Você acha que 65% e depois
26% das pessoas entrevistadas acreditam que grande parcela dos homens tem
atitudes vulgares e ofensivas contra as mulheres e até mesmo violentam estas?
Não.
Você acha que 65% e depois
26% das mulheres agem, se vestem e pensam como ninfomaníacas ao sair na rua
procurando estupradores em lugares ermos, usando roupas que provocantes e que os
homens que convivem em sociedade com estas as violentam das mais variadas
formas? Não.
Você acha que esta
pesquisa foi manipulada para fins de interesse político? Sim.
Você acha que a violência
contra a mulher é um exagero como fenômeno social? Não.
Você acha que a política
de segurança dos Municípios, Estados e DF é insuficiente e não efetiva no
combate a violência sofrida pela mulher? Sim.
As mulheres são realmente
as maiores vítimas nesse tipo de situação? Sim.
Depois de
colocar meu ponto de vista espero que tenham entendido que vivemos em um país
de marionetes articuladas por espertalhões que violentam e estupram sim a paciência e o
esforço de um povo que não atura mais exageros, atrasos, desencontros,
mentiras e manobras escancaradas para estes, os políticos, serem eleitos novamente.
Convido a todos que lerem este texto que reflitam não no sentido de que a
mulher realmente tenha que se ferrar por sermos machistas, mas que certos fatos
concretos de nossa sociedade a muito esquecidos surgem como que mágica á frente
dos olhos do povo e um período por demais duvidoso.
O que deveria, sim, era este
assunto ser tratado com a seriedade que merece 365 dias do ano, e não unicamente em anos eleitorais.
p.s – este blog é completamente
contra qualquer tipo de exploração da mulher e de qualquer ser humano em prol
de poucos que vivem entre tantos e que estão no poder deste país que ainda
cheira a leite para certos assuntos.
Marcelo Ferla
Reflexão lúcida e necessária, que devemos nos fazer. Aliás, a política de segurança pública fracassa não apenas no combate à violência sofrida pela mulher, mas a todos os seus cidadãos. Infelizmente a mulher é a primeira da fila.
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