Um estudo divertido sobre
impostores clássicos.
Os
grandes impostores: as verdadeiras histórias por trás de famosos mistérios
históricos, de Jan Bondeson, diferentemente do sensacionalismo de muitas obras
a respeito de segredos célebres e controversos, apresenta um estudo sério e
respeitado de casos sem explicação.
O autor utiliza todo o seu conhecimento
médico e seu juízo criterioso para analisar grandes mistérios não resolvidos
envolvendo as mais controversas personalidades dos últimos duzentos anos.
“Bondeson é um
reumatologista que tem um interesse especial pelos aspectos mais obscuros da
história. Suas hipóteses são filtradas por um conhecimento aguçado e perspicaz
das dificuldades de se estabelecer a verdade.” (The New Yorker)
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Os grandes impostores (The Great Pretenders: The True Stories Behind Famous Historical Mysteries)
Jan Bondeson
Tradução de Paulo Afonso
Não Ficção
Difel, selo editorial da Bertrand Brasil
384 páginas
R$ 35,00
ISBN: 978-85-7432-134-9
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"Lembrado como o tsar
de Guerra e paz, de Tolstoi, Alexandre I é uma das figuras mais fascinantes da
história russa. Sua luta incansável contra os invasores franceses, em 1812 e
1813, salvou a Rússia. Mas havia um lado sombrio em Alexandre I.
Quando jovem,
ele tomou parte na conspiração que destronou Paulo I, seu desequilibrado pai;
mas o sentimento de culpa por ter concordado com o assassinato do próprio pai o
atormentou pelo resto da vida. Por volta do final de seu longo e bem-sucedido
reinado, ele se tornou uma espécie de místico religioso, e disse a alguns de
seus amigos que seu verdadeiro desejo era abdicar do trono para levar uma vida
de orações e austeridade.
Desde a década de 1860, há uma lenda persistente de
que Alexandre I fez exatamente isso — após forjar a própria morte, em 1825, ele
viveu por mais 39 anos disfarçado como o devoto eremita siberiano Fiódor
Kuzmich.
O mistério do imperador e do eremita logo se tornou o enigma nacional
russo, que apesar do trabalho de muitos pesquisadores ainda não foi
solucionado.”
Bondeson aborda enigmas
como a lenda do Czar Alexandre I, que teria falsificado a própria morte e
virado um eremita; o importante mistério Druce-Portland, hoje uma peça
esquecida da história britânica; e o suposto falecimento do filho de Luís XVI
com Maria Antonieta.
Com um texto ágil e
conciso, aliado a dados incontestáveis, o autor criou uma obra de não ficção
com ritmo bastante ágil, em que o leitor não conseguirá parar até terminar.
Provas como testes de DNA, presentes nos casos do Delfim e de Kaspar Krause, o
garoto que apareceu em Nuremberg, em 1828, após ter passado toda a vida numa
masmorra subterrânea, mudam completamente o rumo de várias lendas da
humanidade.
Neste curioso Os grandes
impostores, que aborda os mais famosos casos sem solução de personagens
duvidosos, Jan Bondeson expõe todas as provas e aplica sobre elas conhecimento
e raciocínio lógico para averiguar a verdade por trás dessas histórias
fascinantes.
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Princesa Anastácia, filha do último czar russo Nicolau II: uma impostora que afirmava ser Anastácia e ter sobrevivido à execução da família real foi desmascarada por um teste de DNA |
Nunca existiu uma criança
alemã criada em uma masmorra, sem contato com seres humanos e alimentada a pão
e água. Kaspar Hauser, o jovem selvagem celebrado no filme de Werner Herzog de
1974, realmente existiu no início do século XIX, mas inventou a própria
história para conseguir dinheiro, conquistar a generosidade alheia e, quem
sabe, alguma fama. Jan Bondeson, professor da faculdade de medicina da
Universidade de Gales, na Grã-Bretanha, vasculhou bibliotecas e documentos
históricos sobre o caso e, juntado a esses indícios os avanços da ciência
moderna, descobriu que, por critérios hoje óbvios para a medicina, o garoto bem
desenvolvido física e mentalmente jamais poderia ter um passado tão desolador.
Em seu livro, recém-lançado no Brasil, Bondeson narra casos como esse, fazendo
uma análise minuciosa de episódios conhecidos como os maiores mistérios de
identidade do século XIX. Como um narrador de livros de detetive, ele recolhe
pistas, examina as relações e tenta desvendar seus enigmas.
“A ciência do século XIX
era inútil para investigar esses casos. As modernas técnicas de DNA deram neles
um golpe fatal”, diz Bondeson.
A maior parte dessas
histórias não sobreviveu ao desenvolvimento científico e, principalmente, aos
testes genéticos, acessíveis desde os anos 1990.
Essa é a principal ferramenta
para os casos de identidade duvidosa abordados no livro.
Qualquer cabelo,
pedaço de roupa ou carta secreta pode ser submetida à análise e ter sua
veracidade comprovada. Príncipes sumidos ou filhos bastardos, hoje em dia, são
facilmente desmascarados pela ciência.
“Para muita gente, um
impostor é um vigarista do século XX. Não engolimos mais essas histórias com
facilidade”, explica Bodenson, autor de outros 13 livros, dois quais apenas um,
Galeria de Curiosidades Médicas, havia sido traduzido para o português, em
2000.
História romântica — Nas
páginas do livro, o reumatologista nascido na Suécia se concentra em uma época
em que a medicina e a ciência como conhecemos ainda não estavam desenvolvidas.
Exames de sangue, testes psicológicos ou material genético contido em cromossomos
ou mitocôndrias não eram sequer ideias da ficção. Por isso, avaliar a
autenticidade de documentos, confissões ou verificar se uma pessoa era mesmo
quem dizia ser era uma árdua tarefa.
O poder político europeu do período, que
deixava de ser fundamentado em linhagens consanguíneas e era balançado por
revoluções populares, tampouco ajudava a verificar a verdade dos episódios. Era
comum surgirem herdeiros desaparecidos, monarcas imortais, casamentos secretos
ou pessoas simples depois identificadas como nobres sumidos.
Além disso, o imaginário
desse tempo ainda era impregnado por histórias míticas e o pensamento mágico
fazia parte do cotidiano.
Não havia a separação clara entre a história
convencional, baseada em evidências, e sua versão romântica, feita por teóricos
de conspirações ou intelectuais amadores. Ficção e fatos históricos reais se
misturavam e ficavam à mercê do narrador.
“Muitas dessas lendas e
mistérios históricos se incluem em um conjunto de lendas típicas, algumas das
quais têm origens muito antigas.
A lenda do herdeiro desaparecido, como a do
francês Luís XVII, reflete a longa ausência de Ulisses e seu retorno como um
pleiteante.
A história do simplório misterioso que acaba se revelando um
príncipe, caso do czar russo Nicolau I, remonta a histórias populares
medievais”, explica Bodenson.
“Eles têm muitos aspectos míticos e essa é uma
das razões por que se tornaram tão famosas.”
Experiência médica — O
autor começou a se interessar no início dos anos 1990 pelas histórias de
identidade duvidosas, comuns no século XIX.
Paralelamente a seu trabalho como
pesquisador na Universidade de Gales, começou a ler sobre pessoas que
pleiteavam ser filhos de reis ou herdeiros de grandes fortunas.
Percebeu que
faltava reunir todos os fatos históricos relacionados a elas, as conclusões
científicas e, principalmente, os resultados dos testes de DNA feitos com esses
personagens.
Usando sua experiência
médica – que vê os indícios das doenças, analisa suas causas e faz as relações
para descobrir sua solução – resolveu ir atrás de documentos da Biblioteca
Britânica, da Biblioteca Nacional da França e da Alemanha para pesquisar sobre
esses personagens.
Visitou as cidades e os museus locais para conhecer o
ambiente e passado de cada uma das histórias. Levou dois anos para juntar todas
as informações e reuni-las em livro.
O resultado é uma apresentação de todos os
indícios históricos e científicos e um exame preciso do que levou esses
personagens a, até hoje, permanecerem no imaginário mundial.
“Uma diversão
transgressiva. As bizarrices da era vitoriana por si só já fazem valer a
leitura.” (Publishers Weekly)
Jan Bondeson nasceu na Suécia.
É escritor, médico reumatologista e professor na faculdade de medicina da
University of Wales, em Cardiff, País de Gales.
Além da carreira na medicina,
escreveu livros sobre assuntos variados, como anomalias médicas, curiosidades
da zoologia, crimes não desvendados e mistérios não solucionados.
Alguns de
seus mais conhecidos títulos são Buried Alive, Galeria de curiosidades médicas,
The Feejee Mermaid and Other Essays in Natural and Unnatural History, The
Two-Headed Boy and Other Medical Marvels e The London Monster.
Os grandes
impostores é seu primeiro livro publicado pela Bertrand Brasil.
post: Marcelo Ferla
fontes: Veja e Ed. Bertrand Brasil
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