Sempre acreditei que um país se faz com a seriedade e qualidade de seu ensino e que é, quando bem aplicado, gera uma nação educada e poderosa, sem a necessidade para isto de força.
Infelizmente a educação nunca foi um tema levado a sério pela nossa nação, o Brasil. A muito penso a respeito do assunto, reflito quais seriam os motivos que levam um país de proporções continentais como o nosso a não ter uma educação eficaz, na medida em que possuí este, um povo tão criativo e que se adapta facilmente a dificuldades mais variadas, nos mais variados setores da sociedade.
A resposta mais recorrente em minha cabeça é a de que não convém ao sistema político brasileiro e a quem o compõe que o povo por ele comandado seja mais inteligente e, conseqüentemente, mais politizado do que já é, situação esta que faria com que muitas das coisas que estão da forma que estão, fossem melhores, menos cômodas e convenientes somente a quem interessa, a minoria.
Meu irmão mais jovem, que tem hoje 17 anos de idade, é um cara que representa o lado completamente positivo da geração a qual pertence.
Possui um raciocínio rápido, linear e coerente. Tem uma capacidade de avaliação de situações muito apurada, o que traz a ele a facilidade na resolução de problemas, na medida em que foi preparado a fundo no ensino fundamental e médio, para a próxima etapa de sua formação, o ensino superior.
É ainda, interessado naquilo que se propõem a fazer, não mede esforços para obter o máximo de sucesso naquilo que está envolvido, ou seja, é um adolescente dos sonhos, antenado, ligado em 220 V, não tendo como fonte de energia, bala, doce, pó ou LSD.
Admiro por demais esse cara, visto que vive em tempos onde ser adolescente é sobreviver a um apocalipse e ele é um sobrevivente intocado e irretocável deste momento tenebroso que nossos adolescentes vivem.
Por conta de tudo isto que escrevi sobre ele e pelo fato dessas características não serem exclusividades dele, havendo milhares de adolescentes exatamente assim, como descrevi, é que a falha ocorrida este fim de semana na prova do ENEM é algo inadmissível.
Digo isto, com a indignação de quem é irmão de um cara que obteve como média de 110 do total de 180 possíveis na avaliação, média esta que o coloca na URFGS para o curso de Relações Internacionais, o curso escolhido por ele, com sobra. Para se ter uma idéia se ele fizesse 125 acertos, ou seja, 15 a mais do que fez, estaria apto para cursar medicina na URFGS, o curso mais concorrido do pedaço. O moleque é bom. Mas não pensem que sou um irmão mais velho bobalhão e babão.
A reação não poderia ser outra, choro nos corredores, desespero, sensação de frustração e impotência, pois nada podem fazer, estão todos, adolescentes, de mãos atadas.
Coisas desse tipo não se fazem. Nem em sendo uma brincadeira com calouros recém aprovados que, diga-se e passagem é outro problema, pois o esforço dispensado por milhões de adolescentes brasileiros que neste fim de semana de provas, conseguiram a média necessária para o ingresso em uma Universidade Federal e que é algo de valor imensurável para todos eles, poderá não ter valido para nada.
Todos os fatos que estão envoltos em mais um escândalo no setor educacional de nosso país, sim, pois devem se recordar que, a bem pouco tempo atrás, o gabarito da prova do ENEM fora furtado, ocasionando sérios problemas á aplicação da prova, só vem a demonstrar a fragilidade desse setor e o descaso dos responsáveis por esse assunto, visto a reincidência dos problemas.
Não é possível que um governo, por intermédio do seu mais alto escalão, o Ministério da Educação, não tenha capacidade de levar a sério algo que é considerado uma das etapas mais importantes na vida de uma pessoa, a de decidir e conquistar o seu futuro por meio da aprovação em provas nacionais e, posteriormente, em provas aplicadas pela instituição de ensino que este escolheu, vindo a ser aprovado em ambas, o que o levará a ser aquilo que ele optou em fazer pelo resto de sua vida. Isso é muito, mas muito mais sério do que pode se imaginar.
A incompetência absurda do governo que agora é acusado de não ter aberto licitação para decidir quem formularia e quem aplicaria a prova, o que já torna todo o ato ilegal, o erro na impressão das provas, o que demonstra escancaradamente a irresponsabilidade e despreparo de quem a imprimiu e as inúmeras falhas daqueles que aplicaram e fiscalizaram a prova por todo o país, são fatos devastadores demais até para a cabeça do maior dos CDF’s da sala de aula do cursinho. É de queimar os miolos de qualquer um dos envolvidos.
Discute-se agora se: opção A: devem-se aplicar novas provas em todo o país, ferrando assim, a todos, sem distinção de raça, cor ou credo; Opção B: devem-se aplicar provas somente nos locais onde os problemas foram detectados, não prejudicando os demais; opção C: com o novo Ministro da Educação, tudo ficará resolvido, é só aguardar e opção D: nenhuma das anteriores, pois o governo não sabe o que fazer.
D :aterroc atsopseR.
Isto mesmo meus caros, a resposta é a letra D. A coisa toda começou torta e acabou torta, não poderia ser diferente, nunca é. O MEC admitiu a entrega das provas com erros e para piorar tudo a questão virou judicial.
Não falo de questões judiciais aqui em meu blog, pois não gosto de falar de trabalho neste espaço, gosto de falar e polemizar a respeito de coisas que acho valer a pena agir desta forma. Mas terei que abrir uma exceção.
O Ministério Público Federal do Ceará postulou ação civil pública, através da qual obteve uma decisão em caráter liminar, suspendendo a prova. Do outro lado, vem a Advocacia Geral da União tentando derrubar a decisão em caráter liminar através de recurso.
Atento vocês todos para o seguinte. A Ação Civil Pública é o tipo de ação que é utilizada com o intuito de preservar interesse público. Paramos aqui e façamos um raciocínio simples.
E se em resposta a Ação Civil Pública interposta, por meio de recurso interposto se chega à conclusão de que o número de prejudicados nas provas (entenda-se aqui prejudicados, aqueles que conseguiram atingir seu objetivo) é maior do que aqueles que não atingiram, sim, por que quem está a apoiar a suspensão da prova são aqueles que não obtiveram um resultado satisfatório para si, eis que não há motivo de reclamação para aqueles que conseguiram atingir suas médias.
Se isto ocorreu, restaria prejudicado o próprio conceito da ação interposta.
Não haveria que se falar neste tipo de ação. Há que se recordar que os casos, apesar de factuais, são isolados no que se refere a quantidade de prejudicados, pois de quatro provas de cores distintas, uma deu problema, a maldita prova amarela, sendo assim, não um fato de natureza generalizada e sim de natureza isolada.
Ademais, há registro de vários casos em que provas de concursos públicos e do próprio ENEM, foram aplicadas somente aos prejudicados pelos erros contidos no conteúdo destas e não a todos de forma generalizada sendo a primeira vez que isso ocorreria se fosse o caso. Repito, eram quatro provas e somente uma teve problemas, a maldita prova amarela.
A justiça brasileira, neste caso, representada pela Juíza da 7ª Vara Federal da Seção Judiciária do estado do Ceará, errou, pois a natureza da ação interposta não vinga.
Através do Princípio da Isonomia, o qual determina que todos são iguais perante a lei e que está sendo utilizado para provar que todos, com erros ou não, fizeram uma prova válida, apóia a luta para que se mantenham os resultados.
A briga será longa, realmente não espero que assim seja e que a coisa termine sem prejuízo a ninguém, principalmente aqueles que obtiveram seu objetivo.
E você acha o que correto?
Marcelo Ferla
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