Daniela
Vega, a atriz trans que colocou Hollywood a seus pés.
Beatriz Díez
(@bbc_diez)
Da BBC Mundo
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp8tKKLaPCsp0KrDuSjQJGuwJSvonNgZrXW9MlkrnjhkDZbbDE3w-7Y6UI-WxA70FbeFytgCRgVvAeVp2IjbN0GVQhenhXLvfs3bsEUq7AgpQfnipy7oXDPXE7dWhbpOayPGadpV9WLsI/s400/_99609833_gettyimages-642700166.jpg) |
Filme estrelado por
Daniela Vega já havia ganhado o Urso de Prata no Festival de Berlim de 2017 por
seu roteiro
|
Vencedor na categoria Melhor
Filme Estrangeiro do Oscar 2018, o chileno "Uma Mulher Fantástica"
entrou para a história da premiação cinematográfica de Hollywood como a
primeira produção protagonizada por uma transexual a ganhar a estatueta.
O longa do diretor Sebastián
Lelio tem a cantora e atriz Daniela Vega como protagonista.
Ela também entrou
para a história do Oscar como a primeira trans a figurar entre o time de
apresentadores de categorias ou indicados ao prêmio.
Foi ela quem chamou ao
palco o cantor Sufjan Stevens, que concorria ao prêmio de Melhor Canção com
Mistery of Love, do longa Me Chame pelo Seu Nome.
Se Vega tivesse sido
indicada na categoria atriz, também seria a primeira trans a romper essa
barreira.
A atriz de 28 anos, nascida
em Santiago, diz não se incomodar com as notícias que destacam o fato de ela
ser transgênero.
"Não me chateia e eu entendo" disse ela à BBC Mundo,
o serviço em espanhol da BBC.
"Veja, fui a única menina trans no colégio,
a única trans no meu bairro, a única trans no meu prédio, a primeira menina
trans para muitos namorados...
Não é algo que me assombre tanto."
Segundo a atriz, agora há
muito mais pessoas transgênero.
"A pergunta é onde estão e o que estão
fazendo.
E essa não é uma tarefa minha, porque estou aqui, visível.
A tarefa é
para os demais, de abrirem essa possibilidade de se conectar."
Trajetória
Daniela Vega começou sua
carreira no teatro - atuou em peças como Migrantes e A Mulher Borboleta.
Em 2014, ela apareceu no
clipe da música Maria, do cantor chileno Manuel García.
No mesmo ano, fez sua
estreia no cinema com A Visita, do diretor Mauricio López Fernández.
Mas o salto internacional em
sua carreira aconteceu com Uma Mulher Fantástica, no qual interpreta Marina,
uma transexual.
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Daniela Vega conta
que o diretor Sebastián Lelio a convidou para o papel depois que ela começou a
dar uma espécie de consultoria a ele | Foto: Beatriz Díez/BBC Mundo
|
O diretor Lelio procurou
Vega para que ela lhe ajudasse como uma consultora.
"Ele pediu que eu
contasse como via o mundo, o que eu fazia aos finais de semana, que livros eu
lia.
Depois de um tempão, ele me disse:
'Vai chegar uma coisa na sua casa.
Leia
e depois me diz o que lhe parece'.
Era um roteiro", conta.
Depois de a atriz ler o
material, Lelio a convidou para ser a protagonista.
E ela topou sem pensar
muito.
A música também faz parte da
vida de Daniela Vega.
Inspirada pela avó, ela é cantora lírica.
Diz que
transpira arte por todos os poros.
A arte, conta, salvou sua
vida diversas vezes.
"Finalmente há mecanismos como a arte, que talvez
podem não ser uma bússola, mas são um bálsamo ou uma chave para novas
conquistas e para novos começos."
A atriz conta que continua
sofrendo agressões verbais, mesmo com todo o sucesso do filme.
"Olha, já
passei 14 anos no meu corpo feminino.
Vivi coisas como as que muitas mulheres
vivem no resto do mundo, e te digo: cão que ladra não morde"
Segundo ela, "os que
fazem golpe de Estado, os que executam, os que geram terror, se guardam".
"No fim, o ouvido
escuta todos os sons.
Entre eles, há notas belas que uma pessoa podem agrupar e
formar uma melodia.
Mas o resto são apenas sons."
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Daniela Vega conta
que sempre sonhou em ser atriz e desfilar no tapete vermelho
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Daniela e Marina
No longa, Marina é uma
mulher que trans que vê seu companheiro, que deixou a família tradicional para
ficar com ela, morrer.
Ela é transformada em suspeita pela morte, e sua vida
vira um inferno.
É proibida até de ir ao funeral.
Mesmo assim, tenta enfrentar
tudo com dignidade, sem perder a linha.
"Marina é uma personagem
muito resistente, digna, resiliente e muito humana", diz.
"É como
tudo na vida, uma pessoa não sabe como vai reagir até que as coisas aconteçam
com ela.
Marina tem essa reação (mais diplomática) porque ela também está
perdida nela mesma, buscando seu próprio lugar, que lhe foi tirado",
explica.
Em alguns momentos fica
difícil distinguir a personagem da atriz, tendo em conta a própria história de
resiliência de Vega.
Ela conta que sofria
bullying na escola por ser um menino "muito feminino".
Quando tinha
15 anos, seus pais perguntaram se ela estava bem e se era homossexual.
Daniela
lhes disse: "Me sinto uma menina".
Seus pais foram para a praia
para pensar por uns dias.
Quando voltaram, deram à filha uma caixa de
maquiagem, um gesto que a emociona até hoje.
grifo no texto nosso.
post: Marcelo Ferla
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