Acampamento na Mina San José.
Foto: Alvaro Andrade
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Eu acompanhava há uns 500 metros de distância - um olho em um telão, no qual uma webcam transmitia a imagem do interior do refúgio, a 688 metros de profundidade, e outro no clarão, que emergia da escuridão do deserto.
Quando Florencio Ávalos, o primeiro mineiro, emergiu da terra, após mais de 60 dias, foi uma emoção entre familiares, funcionários do governo, equipes de resgate e jornalistas.
Uma lágrima caiu no meu rosto. Mas Ávalos era um só. Faltavam 32.
Ao longo de coberturas jornalísticas, me acostumei a passar noites em claro, acompanhando apuração de votos, o risco de aviões no céu em meio a bombardeios.
Mas aquela foi uma noite diferente, feliz. Uma das madrugadas insones mais emocionantes da minha vida.
Começara na noite anterior: ao desembarcar no aeroporto de Copiapó, no meio do deserto do Atacama, a equipe de ZH (eu e Álvaro Andrade) se dirigiu até a mina San José de carro.
Incrivelmente, havia uma estrutura montada para o grande show de tecnologia de salvamento: nas centenas de barracas de familiares e de jornalistas, havia comida – eu evitava comer, para sobrar mais para os familiares dos mineiros – e comunicação por internet e celular.
Era uma forma de pressionar o governo a não esquecer seus homens lá embaixo. Iniciada a operação de resgate, todos os olhos se voltaram para o buraco aberto entre a superfície e o refúgio.
A subida da cápsula Fênix 2, no interior da qual um a um os mineiros eram erguidos, durava em média 12 minutos, 720 segundos acompanhados com a respiração em suspenso. Quando Ávalos saiu da cápsula, de bom humor e usando óculos especiais para evitar o impacto da iluminação no exterior, houve lágrimas, gritos e aplausos.
Cada vida que saía das entranhas da terra era celebrada.
Até o último dos mineiros, Luis Urzúa.
A operação terminou em menos de 24 horas, tempo menor do que o previsto. Uma das maiores façanhas da engenharia de salvamento, que agora é lembrada no filme “Os 33″, inspirado no livro do A Escuridão, do escritor guatemalteco Héctor Tobar.
Postado
por Rodrigo Lopes, às 10:35
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É professor de Redação e deJornalismo Investigativo, Político e Internacional na UniRitter (Laureate International Universities).
Pela cobertura da crise na Argentina, ganhou o Prêmio Rey de España de Jornalismo, em 2003.
post: Marcelo Ferla
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