David Coimbra: o fim das mulheres nuas.
Colunista
escreve de segunda a sábado em ZH.
Houve um tempo em que
mulher nua era coisa rara. Quando nós éramos guris, tinha uma vizinha do
Amilton Cavalo que lavava roupa só de calcinha, no tanque da área de serviço.
Ocorre que a área de serviço dava para o poço de luz do prédio. Então, nós nos
reuníamos no apartamento do Amilton, que ficava em frente ao apartamento dela,
e espreitávamos angustiadamente pelas frestas da veneziana.
Ela era loira,
baixinha e troncuda. Não se podia dizer que fosse bonita, mas não havia nenhuma
outra mulher pelada nas cercanias. Assim, ficávamos felizes com a nossa pelada.
Ela rendeu muitos planos de abordagem, nenhum posto em prática.
Naquele tempo, não
existiam revistas masculinas no Brasil.
De repente, alguém aparecia com uma
revista sueca. A Suécia sempre foi mais avançada em tudo.
Na Suécia, havia algo
chamado "sexo livre", meu Deus.
Com a revista sueca bem escondidinha
dentro da camisa, corríamos para os fundos dos prédios ou para os matinhos do
Alim Pedro. Todas aquelas loiras nuas, fazendo... coisas. Eu nem acreditava que
aquilo pudesse ser verdade.
Tudo que envolvia mulheres
era muito misterioso. Havia um debate sobre o beijo na boca, com língua e tudo
mais. Alguns se diziam detentores de uma técnica especial de beijo de língua.
Aquilo me deixava apreensivo.
Como exatamente se beijava "de língua"?
O que a língua tinha de fazer?
Enroscar-se na língua da menina? Lamber-lhe os
dentes, feito numa faxina odontológica?
Invadir-lhe a garganta até tocar nas
amígdalas?
Raspar o céu da boca?
Eu não sabia! Mas não tinha coragem de
perguntar para ninguém.
Quando eu e minha primeira
namoradinha de verdade nos beijamos na boca pela primeira vez, nos degraus do
edifício em que morava uma amiga nossa, me deu uma tontura. Juro que deu. E
quando essa namoradinha, vestindo um inesquecível shortinho branco que ela
tinha, me deixou tocar em suas coxas morenas e luzidias, estando nós dois
sentados no Fusca verde do pai dela, que ela havia roubado a chave para que
tivéssemos um cantinho para namorar, quando isso aconteceu, Cristo!, voltei
para casa, deitei no sofá e levei algum tempo para me recuperar da emoção.
As mulheres eram seres especiais,
diferentes, fascinantes, inexplicáveis. Donde, nosso apego pela Playboy, a
primeira revista brasileira que desnudou mulheres inatingíveis. Mulheres das
quais não conseguiríamos tirar a roupa naquela época. Nem hoje. Nem nunca.
Quem
tirava?
Algum babaca, é claro. Sempre tem um babaca.
Agora, a Playboy americana
anunciou que não vai mais tirar a roupa das mulheres. A brasileira seguirá
inevitavelmente por esse caminho. Alegam que hoje há inflação de mulheres
peladas na internet. Ninguém paga pelo que pode ter de graça...
Tudo bem, a vida muda, o
mundo muda, tudo muda.
Os guris de hoje não são mais bobos como éramos.
As
revistas têm de atender outro público.
Que fazer?
Paciência. Eu me conformo,
que o mais sábio é se conformar. Mas a minha Playboy da Tiazinha, essa, como as
boas lembranças, estará sempre comigo.
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