No começo do século XX o atelier Diétskoie vospitanie fechou, mas a confecção das matrioskas continuou em Sergueiv Posad, 70 km ao norte de Moscou, num atelier de ensino demonstrativo. As primeiras matrioshkas eram vendidas muito caras, mas de qualquer forma atraiu compradores e teve muita demanda. A confecção de matrioshkas rapidamente se difundiu por Sergueiv Pocad, surgiram os atelieres dos Ivanov, dos Bogoiavlensk, dentre outros. Também mudou-se para lá Vasili Zviozdotchkin. Em torno de Serguiev Posad havia muitas florestas e nelas muitos entalhadores experientes.
A confecção das matrioshkas tornou-se um fenômeno tão difundido que as encomendas chegavam até de Paris. Eram vendidas também na Alemanha, na famosa feira de Leipzig. No começo do século XX teve início uma grande exportação de matrioshkas.
Os desenhos das matrioshkas passaram a ser pintados de diversas formas: meninas com vestidos sarafan, com lenços, com cestas, com laços, com bouquet de rosas, etc. Surgiram matrioshkas que apresentavam jovens pastores tocando flauta, velhos barbados segurando cajados, noivos com bigodes e noivas em vestido nupcial. Não havia limites para a fantasia dos artistas. As matrioshkas eram compostas dos mais diversos tipos para atender ao que é um de seus objetivos – causar surpresa.
Além de temas familiares, havia matrioshkas confeccionadas sob determinados motivos eruditos e culturais. Assim, por ocasião dos 100 anos do nascimento de Nikolai Gógol, foram feitas matrioshkas que representavam os heróis de suas obras, como o personagem Klestakov da comédia O inspetor geral. Em 1912, por ocasião dos 100 anos da Batalha de Borodino (ou Batalha de Moscou – em 7 de setembro de 1812, a maior batalha ocorrida em um dia que as tropas de Napoleão Bonaparte enfrentaram, depois que o czar Alexandre rompe o bloqueio continental contra os ingleses) foram confeccionadas matrioshkas com as figuras de Napoleão e do general russo Kutuzov. As bonecas menores que ficavam dentro destas apresentavam figuras dos companheiros de batalha, membros do Estado Maior General, participantes dos conselhos de guerra.
Muitas matrioshkas foram dedicadas a rituais e ao folclore. Sempre atraiu a atenção daqueles que criam matrioshkas os temas das lendas e contos infantis. Foram representados os contos «O nabo», «O peixe dourado», «Ivan, filho do czar» e outros. As matrioshkas se diversificavam não só nos desenhos, mas também na quantidade de peças que apresentavam. Assim, no começo do século XX, em Serguiev Posad, já se faziam matrioshkas com até 24 peças, e em 1913 o entalhador Nikolai Bulytchev bateu um recorde original confeccionando uma matrioshka com 48 peças. Nesse mesmo ano, em Sergueiv Posad foi organizada uma cooperativa de manufaturas de brinquedos, o que indicava que a demanda havia crescido bastante e que os rendimentos não eram desprezíveis.
As matrioshkas se difundiram e passaram a ser feitas muito além das fronteiras de Sergueiv Pocad, na região de Semionov, na província de Nijegorodski. Eram parecidas em alguma coisa, mas em outras bastante diferentes. Se em Serguiev Posad elas eram pequeninas e campactas, os artesãos de Semionov as entalhavam mais alinhadas, pintavam belas garotas felizes com pequenos xales de cores vivas.
O “vanka-vstanka” – popular brinquedo russo, uma espécie de joão-teimoso – tem origem na matrioshka. O primeiro deles, feito de massa de madeira e papel, foi inventado em 1958 no Instituto de pesquisas científicas de brinquedos em Serguiev Posad. O brinquedo tinha a capacidade de emitir sons e foi fabricado utilizando nova tecnologia, por meio da pressão de ar quente. O autor dessa tecnologia foi o artesão Ivan Moshkin. Dentro do boneco era colocado um pesinho metálico que não o permitia cair, obrigando-o a manter-se na posição vertical.
Ao contar a história da matrioshka é indispensável citar o museu de brinquedos em Serguiev Posad. Ele situa-se a 7 minutos a pé da estação, num belo edifício antigo de dois andares. Para lá se dirigem adultos e crianças de várias regiões do país para ver os brinquedos antigos e contemporâneos. Encontra-se no museu uma coleção inteira de matrioshkas. Entre elas a primeira matrioshka pintada pelo famoso artista Serguei Maliutin, considerado o criador das famosas bonecas, apesar de não ter sido ele o entalhador. Também pode-se entrar em contato com diversas escolas de desenho e pintura: Serguiev Posad, Semionovski, Polkhov-maidanski e outras.
Em 2001 foi aberto em Moscou o “Museu matrioshka”. O museu se encontra no mesmo endereço onde apareceu a estatueta do sábio Fukurama, no atelier de Anatoli Mamontov, na travessa Leontev. Lá encontram-se matrioshkas de todos os tamanhos e com um número de peças que pode ir de 3 até 30. É verdade que a primeira matrioshka, entalhada por Vasili Zviozdotchikin e pintada por Serguei Maliutin, lá não se encontra, dela há apenas uma cópia, mas nem por isso a visita ao museu deixa de ser um passeio interessante. Excursionando pelo Museu matrioshka, o visitante entra em contato com os diferentes tipos de pinturas, inteira-se das diferenças entre as matrioshkas da região de Tver daquelas da região de Semionov.
Simpáticas, surpreendentes e, muitas vezes, engraçadas, as matrioshkas, que pela estrutura foram inicialmente vistas como uma metáfora da continuação da vida (a avó que comporta a mãe, que comporta a filha, que comporta a neta…) vêm agradando há mais de um século, tanto aos turistas que visitam a Rússia quanto àqueles que as recebem como presente de quem por lá passou.
A história das matrioshkas
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